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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

E se a lógica do powerpoint de Dallagnol fosse aplicada a Aécio Neves e o Helicoca?

Do DCM
powerpoint de Dallagnol fosse aplicada a Aécio Neves e o Helicoca


A apresentação do procurador do partido de Aecio e Moro, Deltan Dallagnol, da denúncia contra o Presidente Lula no Ministério Público Federal foi uma grande conta de chegada.
Apesar da falta de evidências, ou por causa dela, Dallagnol apelou para um powerpoint que se tornou um clássico instantâneo. Os desenhos toscos eram a versão da história meia boca que ele queria contar.
Lula era o “chefe da propinocracia”; o “maestro de uma grande orquestra concatenada para saquear os cofres públicos”; o “comandante máximo” do petrolão. “Sem o poder de decisão de Lula esse esquema seria impossível”, definiu.
A dureza é que, segundo admitiu um procurador na sequencia, não há “provas cabais”.
Não faz mal. O que o MP está fazendo, fica cada vez mais claro, é colocar Lula como culpado a priori para depois preencher as lacunas com qualquer coisa que sirva a essa tese.
Em sua resposta ao show de Dallagnol, Lula lembrou do caso Helicoca. “Eles tinham provas da cocaína, eles viram a cocaína, eles pegaram a cocaína, mas não tinham convicção, aí liberaram”, falou.
Foi uma blague, mas pensemos no seguinte: e se a lógica dos homens de Moro fosse aplicada para mostrar a ligação de, digamos, Aécio Neves com o helicóptero capturado com 445 quilos de pasta base de cocaína numa fazenda no Espírito Santo em 2014?
Veja o que poderia ser usado num diagrama cheio de pontilhados, setinhas e bolas azuis. Baseio-me numa reportagem de Joaquim de Carvalho no DCM:
. A aeronave estava no nome de Gustavo Perrella, filho do senador Zezé Perrella. Zezé e Aécio são mineiros, amigos de longa data e torcem para o mesmo time, o Cruzeiro, do qual Perrella foi presidente.
. A família Perrella aparece nos inquéritos abertos para investigar a concessão dos restaurantes da Cidade Administrativa, a maior obra de Aécio no estado, a venda de refeições para os presos, a fraude fiscal na venda de carnes e o convênio para a produção de alimentos para o programa Minas Sem Fome. Aécio sabia?
. O jornalista Marco Aurélio Carone foi acusado de publicar informações falsas com o objetivo de buscar vantagens indevidas. Ele foi para trás das grades depois que começou a divulgar informações sobre Aécio e sua irmã Andrea.
. Na prisão, Carone recebeu a visita de deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Um deles gravou um depoimento dele dizendo que foi detido dias depois de obter a informação de que a filha de Aécio viajou no Helicoca.
. Uma marchinha de carnaval foi escolhida pelos ouvintes de uma rádio. A letra: “o pó rela no pé” e o “pé rela no pó.” Na canção, os sambistas perguntam: “Esse pó é de quem estou pensando?” Em seguida, respondem: “Ah, é sim! “Ah, é sim!”.
. O Helicoca pousou no aeroporto de Cláudio? Não sabemos. É possível que sim. Vale usar o lema do pessoal do Dallagnol: in dubio pro escarcéu.
Alguém poderia juntar tudo isso numa série de slides. Um deles teria Aécio no centro com um cifrão bem grande para impressionar. Invente um nome como coronelocracia, pãodequeijocracia etc.
Chame a imprensa para mostrar. Não vai dar nada. Diante de tão fracos argumentos, ninguém vai levar aquilo a sério.
Agora: experimente dizer que a fazenda pode ser de uma tia de segundo grau do Lula. Bingo. E só não se esqueça de reforçar que Deus é contra a corrupção.

sábado, 10 de setembro de 2016

Nassif denuncia acordo entre Janot e Aécio


Nassif denuncia acordo entre Janot e Aécio 
"Ontem Janot abriu mão das sutilezas, dos rapapés, das manobras florentinas, dos disfarces para sustentar a presunção de isenção e rasgou a fantasia, nomeando o subprocurador Bonifácio de Andrada para o lugar de Ela Wieko, na vice-Procuradoria Geral. Não se trata apenas de um procurador conservador, mas de alguém unha e carne com Aécio Neves e com Gilmar Mendes", diz o jornalista Luis Nassif; segundo ele, as acusações contra o senador, apontado na pré-delação da OAS como beneficiário de propinas na Cidade Administrativa, desaparecerão de vez do noticiário e da PGR
Xadrez do acordão da Lava Jato e da hipocrisia nacional
Por Luis Nassif, no jornal GGN
Conforme previsto, caminha-se para um acordão em torno da Lava Jato que lança a crise política em uma nova etapa com desdobramentos imprevisíveis.
Movimento 1 – os ajustes na Lava Jato
Trata-se de um movimento radical do Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot, que praticamente fecha a linha de raciocínio que vimos desenvolvendo sobre sua estratégia política.
Peça 1 – monta-se o jogo de cena entre Gilmar Neves e Janot. Janot chuta para o Supremo a denúncia do senador Aécio Neves. Gilmar mata no peito e devolve para Janot que se enfurece e chuta de novo de volta ao Supremo. Terminado o jogo para a plateia, Janot guarda a bola e não se ouve mais falar nas denúncias contra Aécio. Nem contra Serra. Nem contra Temer. Nem contra Geddel. Nem contra Padilha.
Peça 2 – duas megadelações entram na linha de montagem da Lava Jato: a de Marcelo Odebrecht e de Léo Pinheiro, da OAS. Pelas informações que circulam, Marcelo só entregaria o caixa 2; Léo entregaria as propinas de corrupção, em dinheiro vivo ou em pagamento em off-shores no exterior.
Peça 3 – advogados de José Serra declaram à colunista Mônica Bergamo estarem aliviados, porque a delação de Marcelo Odebrecht só versaria sobre caixa 2. Ficam duas questões pairando no ar. Se Caixa 2 é crime, qual a razão do alívio? E se ainda haveria a delação de Léo Pinheiro, qual o motivo da celebração?
Peça 4 – em um dos Xadrez matamos a primeira charada e antecipamos que a Câmara estava estudando uma saída, com a assessoria luxuosa de Gilmar Mendes, visando anistiar o caixa 2 e criminalizar apenas o que fosse considerado dinheiro de corrupção, para enriquecimento pessoal.
Peça 5 – a segunda questão – de Léo Pinheiro delatando corrupção - foi trabalhada em seguida, quando monta-se o jogo de cena, de Veja publicando uma não-denúncia contra Dias Toffoli e, imediatamente, Janot acusando os advogados da OAS de vazamento e interrompendo o acordo de delação, ao mesmo tempo em que Gilmar investia contra a Lava Jato, anunciando que o Supremo definiria as regras das delações futuras. Há movimentos do lado da Lava Jato, do lado da PGR, Gilmar se acalma, diz apoiar a Lava Jato. A chacoalhada, sutil como um caminhão de abóboras que passa em um buraco, permitiu ajustar todas as peças.
Peça 6 – Avança-se na tal Lei da Anistia do caixa 2 e o caso passa a ser analisado também pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), presidido por Gilmar.
Peça 7 – Ontem Janot abriu mão das sutilezas, dos rapapés, das manobras florentinas, dos disfarces para sustentar a presunção de isenção e rasgou a fantasia, nomeando o subprocurador Bonifácio de Andrada para o lugar de Ela Wieko, na vice-Procuradoria Geral. Não se trata apenas de um procurador conservador, mas de alguém unha e carne com Aécio Neves e com Gilmar Mendes. Janot sempre foi próximo a Aécio, inclusive através do ex-PGR Aristides Junqueira, com quem trabalhou e que é primo de Aécio. Com Bonifácio, estreita ainda mais os laços.
Fecho – tudo indica que se resolve o imbróglio da Lava Jato da seguinte maneira:
  1. Avança-se na nova Lei da Anistia, com controle de Gilmar através do TSE.
  2. Bonifácio de Andrada faz o meio-campo de Janot com Gilmar e Aécio, ajudando na blindagem e evitando qualquer surpresa, que poderia acontecer com Ela na vice-PGR.
  3. Monta-se um acordo com a Lava Jato prorrogando por um ano seus trabalhos e definindo um pacto tácito de, tanto ela quanto a PGR, continuar focando exclusivamente em Lula e no PT, exigência que em nada irá descontentar os membros da força-tarefa.
  4. Agora há um cabo de guerra entre a Lava Jato e Léo Pinheiro. Léo já informou que não aceitaria delatar apenas o PT. Janot interrompeu as negociações sobre a delação afim de que Léo e seus advogados “mudassem a estratégia”. Sérgio Moro prendeu-o novamente, invadiram de novo sua casa, no movimento conhecido de tortura psicológica até que aceite os termos propostos por Janot e a Lava Jato.
Movimento 2 – o teatro burlesco no Palácio
Aí se entra em um terreno delicado.
A política move-se no terreno cediço da hipocrisia. Faz parte das normas tácitas da democracia representativa os acordos espúrios, os interesses de grupo disfarçados em interesses gerais, a presunção de isenção da Justiça.
Mas o jogo político exige a dramaturgia, a hipocrisia dourada. E como criar um enredo minimamente legitimador com um suspeitíssimo Geddel Vieira Lima, e sua postura de açougueiro suado disparando imprecações? Ou de Eliseu Padilha, e seu ar melífluo de o-que-vier-eu-traço? Ou de José Serra e as demonstrações diárias da mais rotunda ignorância de diplomacia e um deslumbramento tão juvenil com John Kerry que só faltou beijo na boca? Ou de Temer e suas mesquinharias, pequenas vinganças, incapaz de entender a dimensão do cargo e do poder que lhe conferiram?
O “Fora Temer” não se deve apenas à situação econômica precária, mas ao profundo sentimento de que o país foi entregue a usurpadores. Mesmo com toda a velha mídia encenando, não se conseguiu conferir nenhum verniz a esses personagens burlescos.
Ressuscitou-se até esse anacronismo da “primeira dama”, tentando recriar o mito do casal 20, de Kennedy-Jacqueline, Jango-Tereza e filhos, peças do repertório dos anos 50.  Ontem, o Estadão lançou a emocionante questão: vote no melhor “look” da primeira dama que, aparentemente, vestiu quatro “looks” durante o dia. Um gaiato votou no “tomara que caia Temer”.
Movimento 3 – a PGR rasga a fantasia
E como fica, agora, com o próprio Janot abrindo mão da cautela e expondo seu jogo?
Janot foi um dos artífices centrais do golpe. Teve papel central para entregar o país aos projetos e negócios de Michel Temer, Geddel Vieira Lima, Eliseu Padilha, Romero Jucá, Moreira Franco e José Serra, entre outros. Sacrificou-se apenas Eduardo Cunha no altar da hipocrisia.
Sua intenção evidente é liquidar com Lula e com o PT. Mas, para fora e especialmente para dentro – para sua tropa – tem que apresentar argumentos legitimadores da sua posição, como se o golpe fosse mera decorrência de procedimentos jurídicos adotados de forma impessoal.  Era visível o alívio dos procuradores nas redes sociais, quando Janot decidiu encaminhar uma denúncia contra Aécio Neves. Porque não tem corporação que consiga manter a disciplina e o espírito de corpo se não houver elementos legitimadores da sua atuação, o orgulho da sua atuação.
Ontem, em suas escaramuças retóricas, Gilmar escancarou a estratégia. Mesmo contando com toda a estrutura da PGR, Janot avançou minimamente nas denúncias contra políticos.
Para todos os efeitos, há delações contra Temer, Padilha, Geddel, Jucá, Moreira, Aécio e Serra. E, para todos os efeitos, o grupo está cada vez mais à vontade exercitando as armas do poder. Dá para entender porque o temível Janot não infunde um pingo de medo neles?
Com a nomeação de Bonifácio de Andrada abrem-se definitivamente as cortinas do espetáculo e o MPF entra no palco onde se encena o espetáculo da hipocrisia nacional.
Movimento 4 – as vozes da rua
O jogo torna-se sumamente interessante.
Os últimos episódios, a violência policial, os sinais cada vez mais evidentes de se tentar fechar o regime, despertaram um lado influente da opinião pública, que jamais se moveria em defesa de Dilma, mas começa a acordar em defesa da democracia.
A “teoria do choque” exigia, na ponta, um governante com carisma, um varão de Plutarco, um moralista compulsivo, que trouxesse o ingrediente final a consolidar um projeto fascista. O enredo não previa o espetáculo dantesco da votação na Câmara, a pequena dimensão de Michel Temer, a resistência épica de Dilma Rousseff – que, de mais fraca governante da história, tornou-se um símbolo de dignidade da mulher na queda -, a massacrante diferença de nível entre José Eduardo Cardoso e Miguel Reali Jr. e Janaina Pascoal.
O grito de “Fora Temer” torna-se cada vez mais nacional.
A violência das PMs de São Paulo e outros estados mereceu apenas a reação do MPF, através da PFDC (Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão). A intenção implícita de Janot é o esvaziamento dos bolsões de direitos humanos da PGR.
O baixo nível de corrupção no MPF deve-se a um sentimento de missão que está sendo jogado fora pelo jogo político. Sem as bandeiras legitimadoras, será cada vez mais cada qual por si, com os mais oportunistas procurando exercitar a dose de poder que o MPF conquistou com o golpe. A médio prazo, dr. Janot vai promover o desmonte da tropa, não se tenha dúvida.
Qual o desfecho? Aumento da violência em uma ponta, aumento da indignação na outra. O país institucional encontrará uma saída para essa escalada de violência, ou nos conformaremos em ser uma Argentina de Macri e uma Venezuela de Maduro?
Na mídia e em alguns altos postos do Estado, não se fica a dever quase nada à Venezuela. E, em uma época que se tem os olhos do mundo sobre o Brasil.
Do Brasil 247